8 de jan. de 2010

Manda que nós faiz!



Nos anos 80 existia um único fornecedor de filme (película) em Belo Horizonte. Fazer filme era caríssimo, coisa de 25 a 30 mil dólares um anúncio de 30".

Acontece que o tal fornecedor era do tipo que aceitava tudo. O pessoal ligava com uma demanda:

- Fulano, tô aqui com um filme pra Grendene, vai ser filmado em Paris, modelo global, 30" com duas versões pro filme. Quanto você me cobra?

- Ah, esse filme aí eu faço por $50.000 dólares.

- Mas fulano, só temos 10.000.

- Quase sem pensar a resposta era sempre a mesma, imediata:  "Manda que nós faiz!"

Não preciso dizer que o tal fornecedor faliu. Esse caso, vivenciado pelo meu pai e por boa parte da velha guarda da propaganda mineira reflete o que hoje, infelizmente, muitas agências e profissionais do mercado estão fazendo.

É muito triste ir a uma reunião com um futuro cliente e ouvir que ele não paga mídia, produção ou qualquer bonificação.

É triste desenvolver um planejamento estratégico impecável, uma campanha primorosa e ver o cliente optar por uma outra agência que ofereceu 10% de B.V ou não vai cobrar criação.

Sei que a novela é antiga, talvez mais longa do que imagine, mas precisamos restaurar o direito de receber bem por um trabalho ético, criativo e exclusivo.

Dizem que nos mesmos anos 80, Washignton Olivetto visitou a Rússia para conhecer o mercado publicitário. Voltou de lá abismado porquê a agência que ele visitou, uma das maiores de Moscou, não aprovava nada com o cliente para veiculação. A justificativa do dono era simples:

"Como posso sujeitar um trabalho feito por uma equipe especialista, pessoas que estudaram e se capacitaram pra fazer comunicação, ao cliente, que é leigo no assunto.?"

Não defendo esse caminho. Defendo uma parceria real. Recentemente na agência que trabalho fomos tomados de surpresa porque numa instituição que vinhamos atendendo há quase 3 anos, mudou a gerência de marketing. Isso pras agências é comparado a notícia que a Blitz Krieg nazista estava chegando nos anos 40 na europa.

Triste ver que nosso mercado vive de sobressaltos de egos. Muda o gerente de marketing, muda a agência.

Isso sem falar nas concorrências marcadas. Participamos recentemente de umas 3 e sabíamos que determinada agência levaria. Não deu outra, a "profecia" cumpriu.

Admiro as iniciativas de pessoas como Donald Isnenghi, que por anos a fio tem mantido, as vezes sozinho e com investimento próprio, o Clube de Criação Publicitária de Minas Gerais. Os profissionais do CPMG (Clube de Planejamento de Minas Gerais), ABAP e Sindapro. Espero que o trabalho desse pessoal com uma postura correta de cada um de nós, gere um mercado sadio e genuinamente competitivo.

Só vale atentar que enquanto tivermos profissionais que mantêem o lema do "Manda que nós faiz!" o mercado não vai mudar. Postura não depende de quanto vamos ganhar ou perder.

Talvez percamos mais do que simplesmente a verba: a dignidade.

4 comentários:

  1. Caro Cristiano. Temos vários assuntos em comum. Discordo da sua admiração pelos sindicatos organizados dos empregadores da publicidade. Acho que servem de exemplo para como nós, os funcionários, devemos nos unir frente a todas essas instituições que só defendem eles mesmos, obviamente. Em minhas pesquisas baseadas em relações doméstico-pessoais (na dúvida usei a porra do hífen), percebo que a classe criativa é a mais burra no que diz respeito ao respeito profissional. "Manda que nós faiz" é o mínimo que se podia esperar de um segmento descentralizado, desamparado jurídicamente e sugado por todos os departamentos dentro da estrutura de agência. Ainda preciso da agência mas sou defensor nato da freelosofia. R*

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  2. Rogério,
    vejo nos órgãos citados uma tentativa séria de criar uma regulamentação para os processos do setor publicitário.

    No caso o estilo "Manda que nós faiz" atinge não só a publicidade, mas a prestação de serviços em geral. Cabe a cada de um nós fazermos nossa parte para que isso mude.


    Abs.

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  3. Cristiano, sabe que penso muito parecido com você. Mas infelizmente não tenho o mesmo sentimento quanto ao Clube de Criação de Minas Gerais, sinceramente...

    Em parte o que disse tem total fundamento, mas o que falta é a UNIAO DAS PESSOAS - se eu não sei nem quem é o outro, fica muito mais fácil de furar o olho dele. E na medida que conheço as pessoas envolvidas criamos laços mais fortes e talvez posicionamentos diferentes - mas lidamos com pessoas e infelizmente existem pessoas e pessoas - existem as que podemos confiar e outras que nunca poderemos confiar - mas até pra isso precisa se conhecer. Eu tento fazer isto com o Quinta Digital - tentativa de que as pessoas se conheçam mais - antes o mercado era pequeno e era mais fácil - hoje tem gente demais - e conhecer um ou outro não é mais suficiente.

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  4. Zeca,
    na verdade o trabalho do CCPMG poderia ser melhor se as agências cumprissem o papel básico, pagar as peças inscritas. O Donald fez milagree muitas vezes com o próprio dinheiro pra levantar a instituição. Concordo plenamente que o mercado mudou muito e aprovo sua iniciativa com a Quinta Digital.

    Abs e sucesso sempre!

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